O vento levou-me ao vale. Os aldeões surpreenderam-se. De onde eu vinha? – interrogavam-se.
O vento levava-me à aldeia na primavera. Subiram a montanha, galgaram pedras, chegaram às nascentes. Nada. Apenas animais arredios, assustadiços. Não conseguiram se aproximar ou atraí-los. Os aldeões não desistiram. Com pacientes encontros à distância, finalmente, achegaram-se. Um primeiro. Depois o rebanho. Surpresa! Cobrindo seu corpo estavam aqueles flocos brancos levados pelo vento à aldeia. Beleza. Maravilha. Sou um produto da natureza do reino animal.
Ao meu primeiro valor os aldeões acrescentaram mais. Perceberam minha fibra. Usaram-me para se proteger. Tornei-me fio, tornei-me agasalho, tornei-me tecido e tapete, Outra criaturas emprestaram-me a cor. Fui tingida com flores, folhas, cascas, raízes, barro. Tornei-me colorida. Os clãs começaram a medir sua riqueza pelo número de cabeças de ovelhas, carneiros e carneirinhos. Eu mesma chego a ser cotada na Bolsa de Valores.
Fica-me a alegria dos menestréis de ontem e de agora: carneirinho, carneirão, olhai pro céu, olhai pro chão. Fica-me a alegria dos pais que cobrem seu filho nas frias madrugadas e fazem boneco para ele. Fica-me a alegria das culturas que me introduziram no kilim. Fica-me a alegria dos poetas, como Cecília Meireles que me poetisa:
Todos querem ser pastores, quando encontram, de manhã, os carneirinhos
enroladinhos, como carretéis de lã
Teara Arte e Lã
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Maylasky – São Roque – SP