‘Nana nenê’: o potencial de cura e afeto das canções de ninar
Publicado em: 17.08.2018 Atualização: 22.08.2018
por Renata Penzani
“A canção de ninar cuida não apenas do adormecer das crianças, mas dos sentimentos dos cantadores”, diz a pesquisadora Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado
Se vasculhar bem suas memórias mais profundas, talvez se lembre que muitas de suas lembranças sonoras mais antigas são canções de ninar, entoadas por vozes familiares, talvez de uma avó, um pai, mas muito provavelmente de uma mãe. A voz materna e as canções de ninar estão aí para nos lembrar que certos sons são fundamentais para sustentar a arquitetura de nosso ser, chegando até a ter potencial curativo.
Nesta matéria, convidamos a psicóloga e especialista no assunto Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado para conversar sobre a importância do acalanto para o afeto, a construção da identidade e o crescimento saudável do bebê. E, mais do que isso, para os pais e cuidadores terem sempre em mente que uma música cantarolada para uma criança ainda na barriga não é nunca um gesto à toa, mas sim um ato de amor e de criação de laços seguros. Para ela, a canção de acalanto tem a potência tanto de afugentar medos e angústias das crianças, quanto de tranquilizar a relação dos adultos com o mundo, criando assim um ciclo positivo de autocuidado e afeto com o outro.
Autora do livro “Canção de ninar brasileira: aproximações“, Silvia acompanhou diversas famílias recém-nascidas durante os períodos de pré e pós-natal e primeira infância para compor sua pesquisa, publicada em 2017 pela Editora da USP. Na obra, ela analisa as canções de ninar do ponto de vista contextual brasileiro. Afinal, para além de seu efeito apaziguador, tais músicas revelam a trajetória histórica do povo brasileiro – em suas belezas, e também em suas tragédias, como a forte presença de marcas escravocratas em algumas letras, como veremos adiante.
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