Uma criança se prepara no ventre de sua mãe. Células se multiplicam, tecidos se diferenciam, orgãos se formam: a natureza agindo por si mesma.
A nova presença anunciada não se restringe ao filho que nasce. Ela inclui o nascimento de um pai e de uma mãe, um novo casal. Por vezes inclui o primeiro filho que aprende a receber este outro que está sendo gerado: nasce o irmão. Nascem enteados, meios irmãos, madrastas e padrastos. Nascem avôs e avós, tios e tias, primas e primos. Enfim trata-se da gestação de um novo grupo familiar. Para esta gestação não basta apenas a natureza agindo por si mesma, mas há a necessidade do exercício do diálogo, por isso também do exercício do silêncio e um aprendizado: quando crianças, somos cuidados; conforme crescemos vamos aprendendo a cuidar.
Primeiro cuidamos de nós mesmos, do nosso corpo (vestir, banhar, alimentar, etc.), depois de algumas tarefas (escolares e domésticas), depois cuidamos de nossas amizades e relações afetivas, dos estudos, da vida profissional…até que, como pais, assumimos o papel de “Cuidadores e educadores” do filho que chega; somos aqueles que zelam pessoal e intimamente pelo bem estar (físico, emocional, mental, social) daquela criança que nos foi confiada. A espera de um filho evoca um compromisso com a vida e com o bem viver.
Cuidar do corpo que se transforma: nutrir-se, exercitar – se, descansar, consultar – se com o obstetra. Cuidar dos sentimentos presentes: reconhecer seus temores, prazeres e desprazeres, compartilhá-los com o(a) parceiro(a), observar a experiência de amigos que já tiveram filhos, fazer perguntas aos próprios pais, descobrir formas de lidar com o ciúme dos filhos mais velhos, consultar – se com psicólogo, etc. Cuidar da relação conjugal: aproximar-se, buscar autenticidade, franqueza e amorosidade, compreender em profundidade os momentos de afastamento, buscar ajuda quando necessário. Cuidar do espaço físico: preparar o quarto, escolher roupas, berço, fraldas para o bebê. Cuidar do parto: escolher a maternidade, buscar as informações, cursos pré-natais. Estas e muitas outras formas de cuidar do momento da gravidez fortalecem, gradativamente, o pai e a mãe na construção de sua maternidade e paternidade.
Gestação é um tempo de espera, porém não passiva. Os pais vão preparando e se preparando para a chegada de seu filho: espera ativa. Além disso, vão se abrindo intimamente para acolher e receber aquele novo ser, tal como ele é. Trata-se, sobretudo, de uma espera receptiva.
O “ninho humano” feito do entrelaçamento afetivo entre membros da família e da dedicação cuidadosa de profissionais especializados (obstetras, doulas, neonatologistas, pediatras, psicólogos, enfermeiras, educadores infantis), garante o acolhimento e o suporte ao nascimento e desenvolvimento saudável da criança que chega.
Silvia Pinheiro Machado. Consultoria para Unibanco Aig Saúde: Guia da Rede Credenciada